Poire, poisson, bateau et autres incrustations au temple de Nishi Honganji 150x150cm acrylic on canvas
Figures du temple de Nishi Honganji 100x100cm acrylic on canvas
Le jardin Ryoan-Ji 60x80cm acrylic on canvas
Le chemin du philosophe 60x80cm acrylic on canvas
Les paillers du jardin du temple d’Argent 60x80cm acrylic on canvas
Situar alguns planos – Alain Gunst, Janeiro 2012
Que um humano passe a maior parte do tempo disponível a pintar, ele decide-o muito pouco. Mesmo que haja intenção, trata-se sobretudo de tensão. São os planos de tela ou de madeira que pedem ao fluxo do tempo para serem pintados, para existirem como quadros. Isto não é mais que uma hipótese de trabalho. No seu melhor estado, os quadros que nos sobreviveriam seriam a préfiguração de uma nova forma de vida, em direcção à beleza do plano, lentamente elaborada há vinte milénios, pouco mais. Que a maior parte dos quadros sejam falhados, feios, kitsch ou vulgares não muda em nada a hipótese enunciada; que eles sejam ocultados pela proliferação de objectos : carros, aviões, contentores, cadeiras de baloiço, robôs e módulos lunares, todos eles mais ou menos zoomorfos, também não. + info
Outros planos pedem para viver, planos enigmáticos, silenciosos, planos de parede transcendentais prefigurados pelos frescos e pelas paredes das grutas. Paredes realistas, concretas, idealizadas hoje sob a sua forma dita abstracta, o que não deixa de ter um sabor a linguajar nem de conter algum erro semântico. Que os planos concretos que nos ajudam a pensar sejam lugares do espírito, coisas mentais como diria Vinci, é um dos paradoxos da realidade vivida ou sentida.
As telas actuais de Jean Pierre Porcher vivem-se simultaneamente não decididas e paradoxais, tensas e contidas, transcendentes e banalizadas, trazidas de si próprias até à simplicidade relativa de um plano de parede. O que nos permite vê-las e dizer que assim é a herança adquirida ou pressentida da Arte Povera, dos gigantes Cy Twombly, Sigmar Polke, Mark Tobey, mesmo se Antoni Tàpies (de 1950 a 1960) e Tal Coat tiveram um papel importante nesta reconsideração do plano de parede transcendental (mur transcendantal)[mT].
Os Planos [mT], a maior parte rectângulos, tendem para a quadratura (o quadrado na Ásia é uma representação da terra). Estes contêm ao mesmo tempo energia, tempo, luz, e recebem do espaço uma dádiva de profundidade. Que a luz/tempo aí seja colorida, subtilmente aliás, revela uma forma de persuasão elementar. Uma palavra sobre esta subtileza que é a dos valores, o pintor deve-a provavelmente à sua educação Fancesa, ao contacto de Vuillard e por vezes Bonnard, dois mestres dos cinzentos coloridos, que os gigantes acima citados conhecem bem. Tocar a música de grandes compositores, como se intrepreta J.S. Bach ou Debussy não exclui a subtileza inventiva da interpretação.
Esta subtileza tocada/jogada é uma arte de nuances que vai e vem de si própria, ajudada pelo tempo do olhar, grande temperador. Nenhuma necessidade de exagerar a expressividade, nem a raiva, nem a gesticulação formal cara aos expressionistas. Tender para o nada, ver a subtileza das paredes, ouvir os quartos de tom, exige uma educação do olhar, da mão e do ouvido.
Vemos aqui que os planos de Jean Pierre Porcher são tudo salvo exageração. A radiação que estes emanam provém de uma contenção e de uma concentração dos efeitos, a partir de passagens sucessivas de estratos de luz e de tempo. É jogando e rejogando com a estratificação da luz/tempo que o [mT] avança em direcção da préfiguração de uma existência. Não esqueçamos que estes planos são já capazes de reprodução, passados apenas vinte milénios.
Quando arquitectos tais como Peter Zumthor se aperceberam que os estratos do tempo podiam traduzir-se em paredes e em espacialidade vivida, penso no gneiss de Vals na Suíça, ajudado pelo vapor do banho, um passo decisivo foi dado para a humanidade, mas também para a alma da terra. O espiritual na arte transpõe os estratos do tempo quando o artesão ou o artista retém e concentram a energia da matéria. Fazê-lo sobre uma tela é inscrever no quadro a fórmula de probabilidade positiva que nos diz respeito. Um outro futuro é então suposto ser possível. Mil pintores, quatro ou cinco arquitectos aperceberam-se disso intuitivamente…mais vinte milénios e passaremos ao real. As variações contidas, planas e profundas, de Jean Pierre Porcher situam-se numa transição necessária.
Um outro fenómeno se observa na maior parte das suas telas: a leitura global integra a diversidade dos actos deixando um rasto : escovagem, estriagem, acidentes, rasuras, máculas, etc. Encontramo-nos em plena paisagem mental construída através de camadas de pensamento e de acção. O todo levado até ao mais simples, apenas magnificada por uma cor discreta, a de certos metais tais como o zinco, o latão ou o cobre. Uma patine do tempo parece intervir e ocultar por vezes a substância profunda através de um camada plana de superfície, capaz igualmente de aparecer. Esta contenção esconde uma soma energética disponível consoante a atenção prestada, dito de outra maneira o quadro não incomoda. Mas também não se encaixa numa categoria precisa. Será uma simples porta para ir mais além? Ou um piscar de olho à «la muralité» do plano habitado pelos séculos? Estamos atentos ao desvendar deste mistério.